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Transtorno alimentar bulimia: quando comer vira uma angústia

“Comer é prazer”: essa é uma das frases que mais costumo falar no meu dia-a-dia, nas minhas palestras, aulas e também para os meus pacientes. Mas para quem sofre do transtorno alimentar bulimia, o ato de comer pode ser vivido como uma tortura – é um ciclo marcado por restrição, compulsão e muita culpa.
Por muito tempo, esse tipo de problema ainda era visto como um tabu, e não havia muito espaço para reportagens esclarecedoras que atendessem ao grande público. Hoje, felizmente, temos cada vez mais porta-vozes falando de forma séria sobre o assunto.
Ao mesmo tempo que temos mais acesso à informação, também temos muita “desinformação” e acesso a conteúdos que podem servir como gatilho para quem já tem uma predisposição para desenvolver um transtorno alimentar como a bulimia, por exemplo.
Um estudo conduzido pela Florida State University, publicado em 2014 no International Journal of Eating Disorders, associou o uso frequente do Facebook a um maior risco de transtornos alimentares, crises de ansiedade e preocupações com o peso.
Estima-se que as mulheres sejam as mais afetadas, muito provavelmente pela pressão estética que, historicamente, atinge mais diretamente o sexo feminino.
Dessa forma, espero, neste artigo, esclarecer dúvidas importantes e ajudar quem está em busca de conhecer mais sobre o transtorno alimentar da bulimia; seja para ajudar uma pessoa próxima, ou, quem sabe, a si próprio.

O que é o transtorno alimentar bulimia?

O manual DSM-5 Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders define a bulimia nervosa como o ato de comer, em episódios recorrentes, em quantidades de comida muito maiores do que a maioria das pessoas conseguiria comer no mesmo espaço de tempo e com sensação de perda de controle.
É um comportamento muito semelhante à compulsão alimentar. No entanto, quem sofre do transtorno alimentar bulimia também sente a necessidade de buscar compensar e se livrar das calorias ingeridas a qualquer custo.
Para isso, pode colocar a própria saúde em risco, utilizando práticas como forçar o vômito; praticar atividades físicas até a exaustão; fazer jejuns intermináveis ou reduzir drasticamente a quantidade de calorias ingeridas por dia.
Também, é bastante comum o uso de laxantes, diuréticos e inibidores de apetite – na maioria das vezes, sem prescrição médica.
Isso tudo já é um quadro de doença mental e pode também gerar uma série de consequências negativas ao corpo, como:

  • refluxo ácido e outros problemas gastrointestinais;
  • irritação intestinal pelo uso excessivo de laxantes;
  • inflamação crônica e dor de garganta;
  • inchaço das glândulas salivares, no pescoço e na área da mandíbula;
  • desgaste no esmalte dentário e dentes cada vez mais sensíveis e em decomposição, como consequência da exposição ao ácido do estômago.

Outra possível consequência é um quadro de desidratação, que vem em função do hábito de vomitar; e também um desequilíbrio eletrolítico, que, em outras palavras, significa que os níveis de sódio, cálcio, potássio e outros minerais ficam muito alterados.
Com isso, pode ocorrer até mesmo um risco cardíaco.
Além disso, existem os danos psicológicos causados pelo transtorno alimentar bulimia, que são bastante severos.
Imagine o dia-a-dia de quem passa por este tipo de problema:
Geralmente odeia o próprio corpo → Então, decide parar de comer para se punir → Não aguenta, desiste, e volta a comer, mas de forma compulsiva → Se culpa, busca métodos purgativos e volta a se odiar.
Muito sofrimento, não?
O transtorno alimentar bulimia pode ter diversas origens, que vão desde fatores genéticos até aspectos diretamente ligados à saúde mental da pessoa, como condições psicológicas, histórico familiar, traumas e o meio ambiente em que vive.
Além disso, hoje já sabemos que grande parte dos distúrbios relacionados à alimentação começam com dietas restritivas, que geram um ciclo vicioso, conforme explico no vídeo abaixo:

Por isso, cada vez mais, é importante entendermos a necessidade de trabalharmos o comportamento ao mesmo tempo em que reavaliarmos a nossa qualidade alimentar.
A restrição leva à compulsão!  Essa obsessão pelo tal “corpo perfeito” está adoecendo a nossa sociedade.
Passar fome por medo de engordar pode aumentar muito o descontrole diante da comida.
Se existir uma predisposição para um transtorno alimentar como a bulimia, este descontrole pode levar à necessidade de compensação – o que não é nem um pouco saudável.

Tratamento da Bulimia: esqueça as calorias. Foque no comportamento!

Este artigo é apenas uma orientação geral sobre o que é a bulimia e quero deixar bem claro aqui que, se os sintomas listados acima começarem a aparecer com mais frequência, é hora de buscar ajuda médica.
O tratamento do transtorno alimentar bulimia, assim como o dos demais distúrbios alimentares, tem grandes chances de sucesso quando é feito de forma multidisciplinar – com acompanhamento de médico, nutricionista e psicólogo.
Mas a pessoa precisa querer!
Ela precisa ter noção de que este problema pode se tornar um quadro muito grave e até mesmo levar à morte, se não passar por nenhum tratamento.
Às vezes, o paciente precisa de um alerta, porque está tão obcecado com a imagem que enxerga – e odeia – no espelho, que não percebe que está se afundando.
Então, fique atento se você desconfia que alguém próximo esteja precisando de ajuda.

Terapia nutricional: um caminho para a cura do transtorno alimentar!

Para finalizar, indico o vídeo da minha entrevista com a querida Mirian Bottan, jornalista que tem um trabalho lindo divulgando sua própria história com o transtorno alimentar bulimia e com diversos outros distúrbios alimentares.

Ela comentou que sentiu muita dificuldade de encontrar um tratamento eficaz que unisse mudança de comportamento à uma reeducação alimentar não-restritiva. Felizmente, hoje temos um número maior de profissionais especializados em terapia nutricional especializada.
Muitos já entenderam que prescrever cardápio com contagem de calorias para um transtorno alimentar tão severo como a bulimia pode até piorar o quadro.
Lembre-se, se você está vivenciando alguns desses sintomas, procure um especialista, ele será a melhor pessoa a te auxiliar para seguir o tratamento nesse momento.

E… esteja em paz com a comida!

A comida não deve ser uma vilã na nossa vida, nossa relação com ela deve ser de paz. Esses são alguns dos princípios que ensino aos meus alunos do programa online Efeito Sophie.
O Efeito Sophie é um programa para fazer as pazes com a comida e o corpo com vídeo aulas, materiais e atividades para você colocar em prática no dia a dia.
Eu não falo sobre nenhum tipo de dieta ou restrição “milagrosa” ou coisa do tipo.
Acima de tudo, a minha missão é fazer você voltar a ter equilíbrio na sua alimentação sem estresses e culpa.
Comer deve ser um ato de paz e prazer!
É possível ter um peso saudável comendo de tudo (mas não tudo)! Seguindo as dicas, você irá encontrar um caminho mais leve e que gradualmente (no seu tempo), te ajudará a chegar no seu peso saudável.
Vamos juntos nessa?
Se inscreva no programa online Efeito Sophie!
E lembre-se, o programa não substitui um tratamento personalizado e especializado. Se você suspeita estar passando por episódios bulímicos, aconselho que procure um médico para um diagnóstico preciso, combinado?
Por fim, coloque sua saúde em primeiro lugar e aprenda a amar o seu corpo com todas as suas particularidades.
Padrão de beleza não tem nada a ver com saúde! Mas comer com prazer e sem culpa, sim!
Bon appétit!
Referências

  1. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
  2. Do you “like” my photo? Facebook use maintains eating disorder risk
  3. Eating Disorders – National Institute of Mental Health
    Anorexia e bulimia – Corpo perfeito versus morte (2012)
  4. Biblioteca virtual Ministério da Saúde
  5. Tratamento nutricional da bulimia nervosa (2010), Marlen Alvarenga

Se gostou deste artigo, provavelmente vai adorar ler estes posts que separei para você:

  1. O que é Ortorexia e Vigorexia: qual a diferença e sintomas?
  2. Você sabe o que é nutrição comportamental? aqui
  3. A alimentação “perfeita” deve excluir industrializados?

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