O comer intuitivo se trata de uma nutrição baseada nos sinais internos de fome e saciedade, respeitando necessidades fisiológicas, que integra razão e emoção na hora de comer.
O comer intuitivo é um conceito elaborado por Evelyn Tribole e Elyse Resch, duas nutricionistas norte-americanas. Eles propõem que as pessoas comam usando a habilidade de confiar no próprio corpo, diferenciando as sensações físicas, como a da fome, das emocionais.
Como diz o nome, o comer intuitivo baseia-se na intuição, uma forma de conhecimento que ocorre de forma imediata, sem a compreensão dos fatos por uma via racional, mas sim através das sensações.
No entanto, gostaria de deixar claro que é uma abordagem baseada em evidências científicas e seu uso em consultas de nutrição pode ser uma alternativa a abordagens prescritivas, juntamente com a Nutrição Comportamental.
A partir de uma alimentação intuitiva é possível ajudar aquele paciente que por já ter feito tantas dietas restritivas encontra-se desconectado com o seu corpo, ou seja, não ouve os sinais de fome e saciedade e não está em paz com a comida.
Para você entender melhor, vou mostrar aqui os pilares, princípios e ferramentas do comer intuitivo que orientam as pessoas nessa busca pela manutenção da sintonia entre comida, corpo e mente.
Vamos lá?
Pilares e princípios do comer intuitivo
O comer intuitivo baseia-se em 3 pilares e 10 princípios, que você vai conhecer a seguir:
3 pilares da alimentação intuitiva
1. Permissão incondicional para comer
Você pode achar que isso diz respeito a comer sem nenhum critério, mas não é assim que funciona. Na verdade, ao permitir-se comer de forma incondicional a pessoa entende que não existem alimentos proibidos e dessa forma, não se culpa por consumir determinadas comidas.
Com isso, acaba sentindo mais prazer, sem sentimentos inadequados. Por outro lado, quando nos sentimos proibidos e temos regras rígidas quanto à alimentação, a própria percepção de violação pode desencadear um consumo exagerado.
Confira mais informações sobre como a restrição alimentar pode gerar compulsão, neste vídeo do meu canal do YouTube:
2. Comer para atender a necessidades fisiológicas
É impossível dissociar a comida das nossas emoções. É normal comer mais quando estamos tristes, na tentativa de termos mais conforto, ou quando estamos felizes e queremos celebrar algo.
O problema é quando isso torna-se recorrente, o que chamamos de fome emocional, pois ainda que a comida possa nos confortar momentaneamente, na realidade, ela não é capaz de resolver os nossos problemas. Por isso, o comer intuitivo propõe que se coma para atender às nossas necessidades fisiológicas.
Falo mais sobre a fome emocional no vídeo abaixo:
3. Basear-se nos sinais internos de fome e saciedade
Com esse pilar o comer intuitivo ensina que devemos começar a comer quando sentimos fome, o que é percebido por sinais biológicos e gastrointestinais, como quando a barriga ronca. E devemos parar de comer no momento em que nosso corpo manda mensagens de que já estamos saciados. Há dias em que se come mais e em outros menos, são esses sinais que devem determinar nossas escolhas, e não prescrições dietéticas ou recomendações de números de porções de alimentos.
No entanto, algumas pessoas estão tão desconectadas com o seu corpo que colocar esses pilares em prática pode ser difícil e exigir orientação e aconselhamento por parte do profissional de saúde.
10 princípios da alimentação intuitiva
Além disso, esses 3 pilares se desmembram em 10 princípios que vou apresentar aqui para vocês:
- Rejeitar a mentalidade de dieta. A mentalidade de dieta é muito presente na nossa sociedade e diz respeito a achar que precisamos estar sempre restringindo alimentos por questões estéticas ou de saúde;
- Honrar a fome. Não há porque ter medo da fome, a melhor opção é responder aos primeiros sinais de fome, alimentando o corpo;
- Fazer as pazes com a comida. É importante parar de pensar nos alimentos como “bons” ou “ruins” e comer sem julgamentos;
- Desafiar o policial alimentar. O policial alimentar é, na verdade, nossa mente avaliando se as regras alimentares estão sendo cumpridas, o que acaba gerando muita culpa ao comer;
- Sentir a saciedade. Assim como o corpo avisa quando está com fome, também avisa quando atinge a saciedade. É preciso aprender a ouvir essas mensagens e comer até perceber que está saciado e confortável;
- Descobrir o fator de satisfação. Quando a alimentação é prazerosa e saborosa, geralmente come-se menos até sentir-se satisfeito;
- Lidar com as emoções sem usar comida. Muitas pessoas tentam usar a comida para tentar lidar com seus problemas. No entanto, fazer uma caminhada, praticar um esporte ou ligar para um amigo pode ser mais eficiente e gerar menos sofrimento;
- Respeitar seu corpo. Trabalhar a aceitação e o reconhecimento de que o corpo nos permite experimentar muitas coisas são atitudes mais adequadas do que criticá-lo pela sua aparência;
- Exercitar-se sentindo a diferença. Encontrar formas prazerosas de colocar o corpo em movimento, tirando o foco da perda de peso;
- Honrar a saúde. É o estilo de vida que molda a saúde. Uma refeição ou determinado alimento não será responsável por tornar alguém menos saudável.
3 ferramentas para colocar o comer intuitivo em prática
Para ajudar a colocar esses pilares e princípios em prática existem técnicas e ferramentas do comer intuitivo. Aqui, vou apresentar 3 delas:
1 – Escala de fome e saciedade
Pode ajudar o paciente a identificar como se sente em relação à sua fome e saciedade, avaliando-as de 0 a 10.
2 – Histórico de dietas
Consiste em montar, com o paciente, um quadro das dietas realizadas, idade, qual a dieta, peso perdido, reganho de peso, motivos para fazer a dieta, e tudo o mais que se mostrar pertinente. Essa atividade pode contribuir para que o paciente tenha mais consciência das dietas que já fez e de suas consequências.
3 – Habituação sistemática
Pode ser uma ferramenta importante para auxiliar a pessoa a fazer as pazes com a comida. Para isso, o paciente deve escolher um alimento que sinta dificuldade de comer sem sentir culpa ou sem realizar julgamentos. Ele deverá planejar um momento para consumi-lo, anotando como se sentiu antes da experiência e após a experiência. A partir dessa reflexão é possível melhorar a permissão incondicional para comer.
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Referência
ALVARENGA, Marle et al. Nutrição Comportamental. 2.ed. Barueri – SP: Manole, 2019.
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