Hoje em dia, ter culpa ao comer demais é quase que uma questão universal: a maior parte das pessoas que se excede um pouco numa festa, num jantar ou num fim de semana, fica mal. Sente culpa, medo de engordar, começa a pensar na próxima dieta, etc… Mas os exageros ocasionais são normais, sabia? Já a compulsão por comida é algo mais sério, que precisa ser tratado com acompanhamento especializado e multidisciplinar: médico, nutricionista e psicólogo.
Por isso hoje quero deixar bem claro as diferenças entre a compulsão alimentar e estes pequenos abusos que todo mundo está sujeito a cometer. Somos humanos, não máquinas! E vivemos cercados de comida: nos mercados, padarias, farmácias, postos de gasolina, bancas de jornal. Os eventos sociais geralmente giram em torno de quê? De comida, claro! Por que comer é um prazer, logo, é praticamente impossível passar uma vida ileso aos exageros.
No entanto, quando o exagero deixa de ser ocasional e vira um hábito frequente, comprometendo a integridade física e mental, é hora de olhar a questão com mais atenção.
Compulsão por comida: comportamentos comuns
A compulsão alimentar é definida pelo National Institute of Mental Health como uma perda de controle sobre a alimentação. Diferente da bulimia e da anorexia purgativa, ela não gera comportamentos compensatórios como a indução ao vômito, atividade física excessiva ou jejum.
Em contrapartida, traz sentimentos como culpa, vergonha, angústia, depressão e uma série de outros sentimentos difíceis de administrar. Fisicamente, pode desencadear um aumento de peso significativo e ser uma porta de entrada para doenças ligadas à obesidade.
Para identificar o problema, é preciso notar a presença de alguns comportamentos comuns. Os episódios de compulsão por comida geralmente são marcados por uma ingestão muito rápida de uma quantidade excessiva de comida.
De acordo com Eduardo Aratangy, médico psiquiatra supervisor do AMBULIM, o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), uma pessoa pode chegar a consumir até 14 mil calorias de uma única vez – quantidade calórica que daria para alimentar uma pessoa por uma semana.
Ou seja: não é comer “um pouco a mais”. É comer muito a mais. Nestes casos, a pessoa só para de comer quando sente desconforto físico (como dor no estômago, ânsia de vômito e diarreia). E come qualquer coisa que estiver na frente: sem pensar no sabor, sem sentir prazer. Sem nem mesmo sentir fome.
Estes episódios fazem com que a pessoa se sinta fracassada. Muitas pensam que não têm força de vontade, que são fracas, e passam anos sem saber que têm uma doença, sem forças para pedir ajuda, porque têm vergonha destes episódios. Isso gera ainda mais ansiedade, e, por consequência, novos episódios de compulsão por comida.
Se você se identifica com este quadro, é hora de priorizar sua saúde! Busque ajuda. O tratamento para a compulsão alimentar é multidisciplinar. Os resultados são surpreendentes quando a pessoa entende que tem uma doença e se mostra aberta para descobrir as raízes do problema.
Agora, vamos falar de exagero!
Se você chegou até aqui por conta dos exageros ocasionais, saiba que o que sente não é compulsão por comida. Como explicado acima, compulsão é uma doença. Exagero é outra coisa.
“Chutar o balde” quando estamos comendo algo muito gostoso, ou em um evento muito especial em torno de comida, deve ser encarado como algo normal, especialmente para quem está tentando controlar e se proibir de comer. O interessante é encontrar um equilíbrio dentro disso, fazendo as pazes com comida.
Um erro bastante comum é achar que por conta de um exagero no fim de semana, “estragou” a dieta. Aí acaba relaxando de vez, passando a comer de tudo sem critério, fazendo um tipo de “despedida”: “já que chutei o balde, vou comer tudo e amanhã volto para a dieta”… Não é assim?
Exageros ocasionais são normais. No dia seguinte, volte para a alimentação regular e com consciência, respeitando sua fome! Fazendo as refeições principais com qualidade e variedade. Corpo bem alimentado não sente necessidade de exagerar toda hora.
Sem dieta, sem desespero
Outra dica importante para você que vem notando uma repetição grande de exageros é: não faça dieta. Dietas aumentam nossa vontade de comer as coisas, e, quando nos permitimos, acabamos comendo mais do que o necessário.
Outro exercício importante é olhar para dentro: quais os gatilhos emocionais podem estar te levando a esta compensação na comida? Nossa mente também influencia muito essa questão. Às vezes, o estresse ou algum problema em casa, no trabalho, com a família, podem nos levar a comer mais.
Se perceber que não está conseguindo sair deste ciclo, procure ajuda! Não precisa ter vergonha de admitir que algo não vai bem.
Comer melhor e não menos! Comer melhor é comer de forma consciente, sem culpa e sem exagero!
Bon appétit!
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