Até pouco tempo atrás, saber a quantidade calórica dos alimentos valia ouro. Incentivadas pelas dietas da moda, as pessoas passaram a ler rótulos e comparar produtos, considerando apenas este fator – os que tinham baixo valor calórico estavam liberados. A única coisa importante era saber quantas calorias comer por dia, com uma atenção menor ao que comer, mudando assim nossa relação com a comida.
Felizmente, a ciência da nutrição evoluiu, e passou a dar cada vez mais valor à qualidade dos alimentos e ao comportamento diante da comida.
Eu insisto na frase “coma melhor, não menos” há alguns anos, porque realmente acho importante propagar a mensagem de que devemos priorizar a qualidade do que estamos comendo.
A questão é que alguns mitos levam anos e anos para saírem da cabeça das pessoas, especialmente na área da alimentação, que é algo que afeta diretamente a vida de todo mundo – até dos mais desencanados!
O marketing das dietas reforça essas crenças, pois sabe vender muito bem os modismos da vez. Mas se manter o peso e a saúde dependesse do conhecimento sobre quantas calorias comer por dia, não estaríamos atravessando uma epidemia tão grande de obesidade.
Então, deixemos de lado esta matemática ultrapassada e vamos falar do que interessa: o que comer para garantir o corpo nutrido e o organismo em pleno funcionamento!
Quantas calorias comer por dia: chega de conta!
Você não está sozinho: é comum ficar perdido diante de tanta informação sobre o que devemos ou não comer, o que faz bem e o que faz mal, o que engorda e o que emagrece. Naturalmente, muita gente acha que saber quantas calorias comer por dia pode ser a chave para emagrecer e não engordar mais.
Muitas vezes ouvimos que o número “certo” seria cerca de 2 mil calorias diárias para mulheres e 2500 para homens. Pode ser um parâmetro? Até pode, em termos de quantidade. Mas existem alguns “poréns”. Primeiro porque, na “vida real”, ninguém consegue passar o dia fazendo conta – é muito cansativo!
Segundo que quantidade não indica qualidade. Uma porção de bolacha recheada pode ter um valor calórico aproximado de uma salada bem bonita e completa. Mas estes alimentos vão conversar com seu corpo de formas bem diferentes!
O próprio Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, não fala de valor calórico, e sim, de variedade, da importância de se consumir mais itens in natura e menos ultraprocessados, da valorização dos alimentos regionais, etc.
Foco na qualidade, não na caloria
Quando falo em qualidade, me refiro ao valor nutricional dos alimentos. Precisa ter doutorado em Nutrição para saber o que comer? Definitivamente não! Na verdade é bem mais simples do que se imagina: comer mais alimentos frescos, naturais e comida caseira. Cada passo nesse sentido é um passo para uma saúde melhor.
Nossas avós não tinham a quantidade de informação que temos hoje e, instintivamente, seguiam essa premissa: comida caseira e fresca: sentavam à mesa e comiam em função da fome até ficar satisfeitos, sem cálculos complexos, e sim, mais ligados aos sinais internos. Hoje complicou mais porque temos muitas informações do que pode ou não pode, deve ou não deve. E, ao mesmo tempo, muito mais oferta de produtos industrializados nas gôndolas.
Mas uma oferta grande de produtos não é um problema, desde que você saiba consumi-los com moderação! E, de um modo geral, prestar atenção na quantidade de açúcar, sal e gordura que você consome no cotidiano. Sem paranoia, e com bom senso.
Contar calorias já era!
Bom, acho que agora está claro que tentar controlar quantas calorias comer por dia é algo ultrapassado e pouco eficaz, certo?
Além disso, este hábito dá origem a uma relação conturbada com a comida. Muita gente fica preocupada com o valor calórico das coisas e acaba até se esquecendo do que realmente gosta de comer.
Então, tente resgatar isso fazendo perguntas simples a você mesmo. Por exemplo: eu gosto de comer o que no café da manhã? Tapioca ou pão francês? Manteiga ou requeijão light? Café puro, leite, suco verde?
Esqueça valor calórico, pense no seu paladar. Quando você come com prazer e consciência, come menos, sabia? Porque você dá o que o seu corpo está realmente desejando e isso aumenta a sensação de satisfação.
Lembre-se também que cada corpo é único e muitos fatores influenciam suas necessidades diárias: idade, sexo, condições de saúde, estresse, ambiente que vive. Por isso ficar se apegando a um número de calorias diárias é só uma preocupação que mais atrapalha do que ajuda.
Ao invés de contar calorias, prefira consumir mais alimentos de qualidade. Por exemplo, se for comer um chocolate, coma um bom chocolate, saboreando sem culpa!
Se sentir que não está conseguindo sozinho encontrar um equilíbrio, procure um nutricionista que vá além da simples contagem de calorias e também trabalhe o comportamento e a sua relação com a comida. Certamente ele irá traçar estratégias que te ajudarão a manter o corpo nutrido, ter a saúde em dia e, sobretudo, fazer as pazes com a comida e continuar comendo as coisas que gosta com moderação, sem ter que fazer contas!
Bon appétit!
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