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o que é sensibilidade ao glúten
o que é sensibilidade ao glúten

O que é a sensibilidade ao glúten?

O glúten está associado a vários problemas de desconforto que podem ser uma doença ou não. Hoje nesse texto vai ficar mais fácil entender esse assunto que anda tão difundido e causando confusão em muita gente!
A doença celíaca uma doença imune multissistêmica que é desencadeada pela ingestão de glúten em pessoas suscetíveis geneticamente (menos de 2% da população). Os casos dessa doença têm aumentado todos os dias e ainda não se sabe o porquê disso. Existe muita especulação, mas a causa real ainda é um mistério…
Essa doença pode causar uma série de sintomas, entre eles sintomas gastrointestinais como cólicas, diarreia e outros vários sintomas não gástricos como problemas metabólicos, de fertilidade, transtornos de humor e até ósseos.
Uma vez que está descartada a doença celíaca pelo especialista, podemos ver que existe também a tal de sensibilidade ao glúten.
Antes de entender o que é a sensibilidade ao glúten não celíaca, acho importante entendermos melhor as desordens relacionadas ao glúten. Isso ainda é um assunto que causa muita confusão…

Entendendo melhor as desordens relacionadas ao glúten – sensibilidade, alergia, doença autoimune??

Às vezes esses termos ficam confuso na cabeça de muita gente (e até de muitos profissionais da saúde) e acabamos passando informação equivocada para frente. E isso complica ainda mais a cabeça dos pacientes que já vivem preocupados, já que essas doenças intestinais já são uma barra pesada para carregar!
Para isso acabar de uma vez por todas, vem comigo!
Existem 3 condições diferentes: a sensibilidade ao glúten não celíaca, a alergia ao trigo e a doença celíaca.

Como funciona a doença celíaca?

A doença celíaca resulta de interações ambientais, principalmente o glúten, com fatores imunes e genéticos. O glúten é uma proteína (uma molécula bem grandona) presente no trigo, centeio e cevada.
Ele contém vários peptídeos que, em pacientes com doença celíaca, não são totalmente digeridos ou quebrados e as moléculas continuam médias, digamos assim. Algumas dessas moléculas médias são a gliadina e a glutenina. O que complica a história nas desordens relacionadas ao glúten é a gliadina.
A confusão acontece no intestino delgado.
No caso da doença celíaca, as pessoas têm predisposição genética que levam o corpo a desenvolver uma reação contra uma enzima que existe naturalmente na mucosa do intestino chamada transglutaminase levando a danos na mucosa.
E o que desperta essa reação contra a coitada da transglutaminase? Lembra da gliadina? Então, a gliadina vai começar a bagunça que vai levar ao ataque a essa enzima que existe na gente. Por isso, a doença celíaca é considerada uma doença autoimune.
A gliadina atravessa a camada mucosa do intestino (que é a barreira que normalmente protege a integridade do intestino) e se instala na camada de baixo – a lâmina própria.
E é lá que a coisa começa a azedar… porque na verdade a gliadina nem deveriam estar ali. Aí quando tem um corpo estranho onde não devia o que acontece?
Ativação do sistema imune.
A ativação do sistema imune leva a produção de citocinas inflamatórias e anticorpos contra a gliadina e contra a transglutaminase (a enzima que já existe dentro de nós).
Esses anticorpos fazem parte da lista de anticorpos detectados nos exames de diagnóstico da doença celíaca. Essa cascata inflamatória libera mediadores malvados que levam a danos no tecido intestinal.
No caso da alergia ao trigo, também tem sistema imune envolvido, mas o que acontece é uma reação alérgica a proteínas presentes no trigo e nenhum componente que existe naturalmente no nosso intestino é diretamente atacado (diferente do que acontece na doença celíaca).
O que vai causar os sintomas é a inflamação gerada por anticorpos contra essas proteínas do trigo.
Quando o diagnóstico é feito, o tratamento é “fácil”. Só eliminar o glúten da dieta e tudo volta ao normal! Aliás, esse processo é gradual e os sintomas vão sumindo com o tempo. Primeiro se vão as cólicas e diarreias, depois os anticorpos são normalizados e depois a mucosa vai se ajeitando…
Mas a eliminação total do glúten da dieta limita muito a alimentação dessas pessoas. Além disso é uma dieta cara… pães e massas sem glúten custam muuuuuuito mais caro que os convencionais.
Essa restrição pode ser um fator de isolamento social.
Ir a festas, jantar fora fica mais complicado. E ainda tem o problema do glúten escondido e um pouquinho de nada de glúten pode fazer os sintomas voltarem.
Pode ter glúten escondido na composição de comprimidos, em alguns molhos… então a pessoa com doença celíaca ou alergia ao trigo fica sempre apreensiva… eu sei… um fardo pesado…
Existem tratamentos não dietéticos também mas, por enquanto, nada tão efetivo como a retirada do glúten da dieta.

E o que é a sensibilidade ao glúten não celíaca?

No mundo inteiro o interesse em dietas sem glúten tem aumentado e muitas pessoas estão evitando glúten, tendo sensibilidade ao glúten não celíaca, doença celíaca, alergia ao trigo ou não.
Mesmo sem existir nada na literatura comprovando os benefícios dessa dieta para pessoas saudáveis (até o momento em que eu tô escrevendo isso aqui). É sério, o glúten não faz mal nenhum a pessoas saudáveis!
A desconfiança de que poderiam existir pessoas com sensibilidade ao glúten surgiu há quase 40 anos, quando médicos descreveram um caso de diarreia na ausência de doença celíaca que melhorou com a retirada do glúten.
Nos anos 80, outro médico descreveu uma diarreia crônica que melhorava com uma dieta sem glúten e que voltava quando o glúten voltava. E a pessoa em questão não tinha doença celíaca.
Desde essas primeiras observações, estudos têm reportado resultados conflitantes e decidiram denominar essa condição de sensibilidade ao glúten não celíaca para evitar a confusão com a doença celíaca e com a alergia ao trigo.
A sensibilidade ao glúten não celíaca é uma condição onde a pessoa pode apresentar sintomas da doença celíaca, mas os sintomas não envolvem nem ativação do sistema imune nem danos teciduais.
Já os sintomas gastrintestinais podem ser tão incômodos quanto (ou podem ser quase imperceptíveis também). Não se sabe o quão comum é essa condição já que muitas pessoas deixam de comer glúten simplesmente. Isso atrapalha um pouco os estudos para saber a incidência real dessa sensibilidade…
O diagnóstico da sensibilidade ao glúten não celíaca ainda é bem complicado. Alguns estudos mostram que existe um aumento na permeabilidade do intestino outros não… enfim, os estudo são controversos…
O que tem acontecido muito é o auto diagnóstico. As pessoas deixam de comer glúten e sentem melhoras.

Envolvimento da microbiota?

A microbiota pode ser um importante mediador na perda da tolerância ao glúten em pessoas suscetíveis. Estudos têm demonstrado uma alteração da microbiota de pessoas que têm doença celíaca quando comparada à microbiota de pessoas saudáveis, mas essas diferenças deixam de existir quando a dieta sem glúten é iniciada.

Gluten free é a saída?

Sim à uma alimentação sem glúten somente nos casos da sensibilidade ao glúten não celíaca, na doença celíaca e na alergia ao trigo. Só a eliminação do glúten da dieta faz desaparecer os sintomas.
Mas como na ciência as respostas vêm sempre acompanhadas de outras perguntas:
Por que a incidência de desordens relacionadas ao glúten tem aumentado?
Que fatores ambientais podem desencadear essas condições? Será que esses fatores são modificáveis e podem ser evitados para prevenir o desenvolvimento dessas desordens?
O que exatamente causa os sintomas intestinais?
Será que essa intolerância será um dia reversível? Será que imunoterapia pode tornar isso possível?
Será que existe um marcador que pode distinguir pacientes com doença celíaca, sensibilidade ao glúten não celíaca e outras doenças gastrintestinais?
Espero, sinceramente, em breve poder trazer para vocês mais respostas a essas questões…
Referências:

  1. Celiac disease and non-celiac gluten sensitivity.
  2. on-celiac gluten or wheat sensitivity: It’s complicated!
  3. Gluten Rhapsody
  4. Tests sérologiques dans la maladie cœliaque
  5. Diagnosis of gluten related disorders: Celiac disease, wheat allergy and non-celiac gluten sensitivity
  6. Celiac Disease

Rosana Dantas é nutricionista, mestre e doutora em Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorado em Neurobiologia dos ritmos circadianos pela Universidade Louis Pasteur na França.
É autora do livro “A melatonina não serve só para te fazer dormir” e de um projeto de divulgação científica, o Dieta Científica, onde explica numa linguagem simples e divertida como nosso corpo funciona. Acredita que informação de qualidade não deve ficar restrita aos altos escalões do mundo científico e que todo mundo tem direito a ter acesso a essas informações. Então resolveu criar essa ponte que liga as pessoas às pesquisas científicas mais atuais, afinal informações sobre Nutrição e Metabolismo mudam o tempo todo… e isso é maravilhoso!

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2 Comentários. Deixe novo

  • Olá. Parabéns pelo artigo.
    Em relação a atitude mencionada de ‘autodiagnóstico, de retirar o glúten da alimentação’: mesmo que não chegue a 100%, mas a ação de diminuir bastante, e a pessoa se sentir melhor, eu já passei por isso, em uma época que resolvi diminuir bastante o glúten na minha alimentação.
    Será que não teria a ver com o modo de produção do trigo nas últimas décadas, que se tornou “indestrutível” e causa desconforto, mesmo, ao consumirmos?
    Obrigada.

    Responder
  • Irene Aparecida de Sousa
    8 de agosto de 2019 11:18 am

    Adorei esta materia, parabens

    Responder

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