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colesterol alto em crianças
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Colesterol alto em crianças: isso é possível? Como melhorá-lo?

Outro dia recebi em meu consultório uma mãe aflita dizendo “Preciso de ajuda, o meu filho está com colesterol alto!”.

Esse desespero da mãe refletia o susto repentino que ela levou, já que a criança apresentava o peso normal para a idade e comia pouco.

Colesterol elevado em crianças é mais comum do que parece hoje em dia, e requer o acompanhamento de profissionais especializados: médico e nutricionista.

Falarei a seguir sobre alguns pontos que podem ajudar a esclarecer esse assunto e algumas medidas simples que podem auxiliar o tratamento, sem neuras e sem estresse.

O que é colesterol?

O colesterol, ao contrário do que muitos pensam, é imprescindível para a nossa saúde, ou seja precisamos dele: ele faz parte da estrutura das células do cérebro, nervos, músculos, pele, fígado, intestinos, coração, e, ainda, é fundamental na produção de hormônios, vitamina D e a bile.

O colesterol é um composto do grupo dos álcoois, que é transportado dentro do nosso corpo por estruturas chamadas lipoproteínas (formadas por gordura e proteína), através do sangue.

Esse “combo” colesterol+lipoproteína dá origem às frações diferentes de colesterol que vemos nos exames de sangue: LDL, HDL. Cada fração tem uma função específica dentro do organismo e ainda estamos descobrindo mais.

O nosso fígado produz a maior parte do colesterol do nosso corpo. A outra parte (cerca de 20%) vem da nossa alimentação.

“E por que o colesterol foi considerado algo ruim para a nossa saúde?”, você deve estar se perguntando.

O LDL é a fração que transporta o colesterol pelo sangue. Já foi comprovado que o excesso de gordura saturada (oriundo de carnes, leite, manteiga, etc.) e gordura trans (ultraprocessados) podem aumentar o LDL.

É comum escutar por aí que o LDL é o “mau colesterol”, pois, quando está em excesso dentro do corpo, se deposita nas artérias e pode formar um ateroma – uma espécie de placa de gordura.

O grande problema é que essa placa de gordura pode fechar a artéria e impedir a passagem do sangue, e acabar causando um infarto ou um AVC.

Quanto mais avançada a idade, maiores são os riscos de desenvolver essas doenças cardiovasculares, pois o ateroma demora algum tempo para ser formado.

Esse é o motivo que fez o colesterol se transformar em vilão há alguns anos atrás.

O HDL é considerado “bom colesterol”, principalmente, porque auxilia na prevenção das doenças cardíacas por recolher o excesso de LDL depositado nas artérias e leva-lo para ser processado no fígado.

Não gosto desse tipo de denominação “bom” ou “mau”, pois as duas frações do colesterol desempenham funções importantes dentro do organismo.

As doenças geralmente estão relacionadas a uma mistura de fatores: genética, meio ambiente, rotina, alimentação, entre outros. Não existem vilões ou mocinhos para a nossa saúde.

Sabendo disso, não é preciso ter medo do colesterol. Contudo, é importante estar consciente sobre os hábitos diários, a fim de buscar nossa melhor versão com as taxas de colesterol no sangue no nosso normal e saudável.

Mas, crianças e adolescentes podem ter colesterol alto?

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, cerca de 20% das crianças brasileiras já apresentam colesterol elevado e isso está crescendo.

A hipercolesterolemia familiar – doença caracterizada por altos níveis de colesterol logo na infância – está associada a fatores genéticos. Existem duas formas:

  • A versão heterozigótica da doença é mais leve, e pode afetar uma em cada 200 a 500 crianças.
  • E a versão homozigótica, que é mais grave, acomete uma em cada 1 milhão de crianças, ou seja muito muito rara.

Por outro lado, as taxas de colesterol também respondem aos nossos hábitos.

É apontado que a alimentação e o nível de atividade física são os fatores que mais influenciaram no aumento do percentual de crianças com o colesterol alto.

A transição nutricional e o colesterol em crianças

O estilo de vida atual reflete a transição nutricional. Isso significa que estamos mudando o que comemos usualmente e nos tornando mais sedentários.Com o fato de que vivemos cada vez mais em cidades, precisamos nos adequar a um novo jeito de comer e viver. O trabalho, o trânsito, entre outros entraves, diminuem o tempo (e o ânimo!) para cozinhar. Por isso, abrir um pacotinho de um alimento pronto se torna muito mais atraente.

Assim, houve um aumento no consumo de alimentos industrializados ultraprocessados (como refrigerantes, sucos de caixinha, bolachas recheadas, iogurtes aromatizados, entre outros), no lugar dos alimentos verdadeiros (arroz, feijão, carnes, ovos, leite, frutas, legumes, verduras, castanhas, etc.).

Devo lembrar que os alimentos ultraprocessados podem ser práticos, mas contém ingredientes que não conversam tão bem com o nosso corpo.

Mesmo aqueles iogurtes que dizem “valer por um bifinho” podem não ser a opção mais interessante para o dia a dia do seu filho.

Por exemplo, a gordura trans (um ingrediente processado muito usado na indústria: exemplo das gorduras hidrogenadas), segundo alguns estudos, não só pode aumentar o LDL, como diminui o HDL. Essa gordura está presente em alimentos industrializados comumente oferecidos às crianças: bolachas, sorvetes, bolos.

Além disso, as crianças hoje em dia estão menos ativas, por muitas razões.

As crianças não brincam mais na rua, por exemplo – em muitos lugares isso se tornou até perigoso. E, ainda, com o avanço da tecnologia, muitos brinquedos estimulam a ficar mais tempo sentado.

Um grupo de pesquisadores de Stanford (Califórnia – EUA), com base em estudos que vêm realizando desde 1970, concluíram que o exercício pode diminuir o LDL e aumentar o HDL, já a inatividade pode favorecer com que o contrário ocorra.

Resumindo: menos atividade física e mais alimentos processados, um verdadeiro caminho para aumento de colesterol.

Entretanto, precisamos ficar atentos porque taxas altas de colesterol não estão associadas necessariamente ao excesso de peso. Indivíduos considerados “magros” podem ter colesterol elevado, bem como os considerados “gordos” podem ter as taxas normais.

Voltando ao exemplo que citei no início do texto, o menino estava com o peso normal para a idade, era considerado magro. Mas, conversando sobre a sua rotina era evidente que muitas bolachas recheadas, salgadinhos chips e videogame faziam parte da sua rotina diária, e isso sim poderia já ser revisto, sem neura e com mudanças de estilo de vida.

Se esse aumento de colesterol está acontecendo com o seu filho, fique calmo. A solução é mais simples do que parece e pode trazer benefícios além do ajuste do colesterol: muito mais saúde e qualidade de vida e até para família toda.

Crianças devem fazer dieta para controlar o colesterol? Não!

Crianças não devem fazer dietas restritivas, de jeito nenhum!

As dietas nessa fase de vida podem atrapalhar mais do que ajudar, e até influenciar no desenvolvimento da obesidade ou de transtornos alimentares.

O cérebro não vê a dieta como aliado para controlar o colesterol e sim como uma ameaça ao corpo, e isso pode fazer com que a criança só pense em comida e fique obcecada pelos alimentos proibidos

É muito importante que você ajude o seu filho a mudar o estilo de vida, ser mais ativo e comer melhor: mais qualidade e ter uma boa relação com a comida.

Respeite o tempo que o seu filho necessitará para mudar a rotina e assimilar novos alimentos, bem como sua fome.

O nosso corpo é sábio, em pouco tempo se adapta a novas rotinas de sono, atividades e novos sabores, bem como encontra a quantidade adequada para suprir as suas necessidades. Com o seu filho não será diferente, confie!

Assim, não é preciso pressionar para que as modificações aconteçam. Com calma, tranquilidade e paciência tudo se ajeita.

Mudanças de hábitos são eficazes para auxiliar controlar o colesterol em crianças

O controle do colesterol pode envolver ou não o uso de medicamentos, isso vai depender da decisão do seu pediatra e também dos níveis de colesterol apresentados nos exames de sangue.

Mas, a mudança de hábitos é crucial para a melhora das taxas de colesterol tanto em crianças quanto em adultos.
Repare que a todo momento durante o texto eu falei sobre excessos. Então, para normalizar os níveis de colesterol do seu filho a palavra-chave é equilíbrio!

O equilíbrio consiste justamente em não proibir nenhum tipo de alimento e estimular que a criança encontre a moderação por si só, sem neuras.

Para tal, é importante oferecer alimentos frescos e variados para o pequeno.

É verdade que na literatura observamos que o consumo de fibras (aveia, grãos… ), azeite, sardinha, atum, castanhas, abacate, linhaça, podem melhorar o colesterol bom (HDL), mas não é preciso ficar buscando a solução em alimentos milagrosos e consumir apenas esses alimentos.

O fato de aumentar o consumo de alimentos naturais em geral como – frutas, verduras, legumes, arroz, feijão, leite, castanhas, carnes, ovos, etc. – reduzirá gradativamente o seu consumo de ultraprocessados (e gordura trans!) no dia a dia.

Pode parecer um verdadeiro desafio à primeira vista, ainda mais se a criança tiver dificuldade em aceitar novos alimentos. Mas não é impossível, basta ser paciente.

Um bom exemplo: se o seu filho não gostar de salada de brócolis não tem problema!

Pode ser que ele goste de torta de brócolis, de brócolis refogado, de macarrão com brócolis, ou de uma pizza de brócolis feita em casa. Oferecer o alimento de diversas maneiras pode ajudar nessa fase de adaptação – e eu garanto que todas essas opções são saudáveis.

Agora, se ele não gostar de brócolis de forma alguma, não precisa estressar. Nós temos disponível uma variedade incrível de vegetais, algum irá agradar.

O mesmo vale para os outros alimentos.

Aposte na variedade! Não pare de oferecer, oferecer, oferecer!

Frutas, verduras e legumes possuem uma grande quantidade de fibras, que auxiliam no controle do colesterol. Alguns estudos mostraram que o consumo frequente desses vegetais pode ajudar a prevenir outras doenças, como o diabetes tipo 2.

Deixar frutas prontas para o consumo e sempre à mão pode facilitar a adesão a esses novos hábitos.

Novidades como usar o boleador, palitinhos de bichinhos, espetinhos de frutas podem ajudar a chamar a atenção das crianças. Use a criatividade.

Cozinhar mais também pode ser uma boa alternativa para reduzir o colesterol do seu filho. Que tal preparar biscoitinhos em casa com o filhote ao invés de mandar bolacha recheada industrializada de lanche para a escola?

Ou um bolo caseiro delicioso? As crianças adoram ajudar na cozinha, veja essa receita do meu canal super fácil de bolo de cenoura para fazer com os pequenos:

Pode ser um passatempo divertido cozinhar com a criançada, e garante uma maior interação com os alimentos. O hábito de cozinhar é um grande aliado da alimentação saudável infantil.

Igualmente importante: estimular a criança a mover-se mais

É interessante que a atividade física vá além do horário da educação física na escola.

Colocar o seu filho na natação, no futebol, na dança, ou em qualquer outra atividade pode ser interessante. Porém, não esqueça de considerar os gostos dele. Deve ser um momento de prazer e não de punição pelo colesterol, ok?!

Incentivar outros tipos de brincadeiras como pega-pega, esconde-esconde, cabra cega, amarelinha também pode ser uma boa pedida – além de fazer com que você relembre da sua infância!

Levar seu filho com você ao mercado e à feira também conta! Peça ajuda a ele para planejar o cardápio e os lanches da escola, inclusive pode ajudar na interação que falei acima.

Tente criar uma rotina com seu filho e sua família, estabelecendo os horários de cada atividade do dia-a-dia, tais como brincar, comer, dormir, tomar banho, etc.

É importante explicar o papel de cada uma dessas atividades, possibilitando que seu filho se torne mais ativo e participativo dentro desse processo!

Por fim, devo frisar que os pais são os modelos para os filhos. Sendo assim, o ideal é que todos estejam envolvidos nesse processo de mudança.

Essa pode ser uma oportunidade de melhorar os hábitos da família toda.

Eu sei quanto pode ser desafiador equilibrar a rotina familiar com a alimentação, afinal, também sou mãe. Ao longo de mais de 20 anos estudo a nutrição e a neurociência do comportamento alimentar e reuni uma série de dicas e ensinamentos que podem te ajudar nesse processo no meu programa online Meu filho sem obesidade e sem transtorno alimentar.

Vamos juntos nessa? Comece agora mesmo o programa online Efeito Sophie na Alimentação Infantil!

Bon appétit!

Agora que você já sabe o que é colesterol e porque cada vez ele é mais comum em crianças, veja também esses outros artigos que separei para você:

E você, o que tem feito para melhorar a alimentação dos pequenos? Compartilhe comigo aqui nos espaços dos comentários abaixo:

34 Comentários. Deixe novo

  • Oi! Levei meu filho ao médico o colesterol de tá 140,quero saber quais tipos de comidas devo evitar e como posso melhorar o colesterol dele? estou muito preocupada!as vezes ele se senti mal é muito difícil mais acontece ele fica tonto passa mal só melhora quando vomita quero saber se é por conta do colesterol que estar alto?

    Responder
    • Olá Nayara!
      Em casos específicos, busque ajuda de um profissional de saúde especializado para te ajudar com a alimentação do seu filho. Mas, no geral, como está no artigo do Blog, é interessante aumentar o consumo de alimentos naturais em geral como – frutas, verduras, legumes, arroz, feijão, leite, castanhas, carnes, ovos, etc. – e reduzir gradativamente o consumo de ultraprocessados (e gordura trans!) no dia a dia.
      Um abraço,
      Nathalia – Equipe Sophie

  • O médico pediu o exame do meu filho pra eu fazer com 12 hrs de jejum só que o jejum não foi feito certo pode dar alterações no colesterol

    Responder
    • Olá Ana Paula!
      O ideal é seguir as recomendações que o profissional de saúde lhe deu 😉
      Seria legal informá-lo no retorno da consulta com o exame em mãos, tudo bem?
      Um abraço,
      Nathalia – Equipe Sophie

  • Sabrina Coimbra braga
    21 de outubro de 2022 12:22 pm

    Olá minha filha de 4 anos está com colesterol 178 É meu filho de o anos está com 166 e triglicérides alto também,o que devo fazer?

    Responder
    • Olá Sabrina!
      Agradecemos seu comentário aqui no Blog da Sophie e compreendemos sua preocupação. O ideal é buscar auxílio de um médico e nutricionista para um acompanhamento mais individualizado para os seus filhos, tudo bem?
      Um abraço,
      Nathalia – Equipe Sophie

  • Ola, como vai minha filha ta com 225, o que devo fazer ? ja tomou colestra não baixou e fui em outro ele achou melhor cuidar dos alimentos so

    Responder
    • Nathália Uliana
      15 de junho de 2022 2:54 pm

      Olá Alvaro!
      O acompanhamento com um profissional de saúde é sempre o melhor caminho 😉
      Um abraço,
      Nathalia – Equipe Sophie

  • Meu filho fez uso de corticóide, uns dias antes de realizar os exames de rotina, pode dar alteração no triglicérides?

    Responder
    • Olá Jéssica!
      Na consulta de retorno com o médico do seu filho, avise-o sobre o uso do medicamento. 😉
      Um abraço,
      Nathalia – Equipe Sophie

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